Em tempos de pandemia, o medo, acompanhado pela mudança repentina de rotina podem fragilizar muito nosso psicológico. De súbito, nos vemos trancados em casa e diante um cenário incerto e assustador. E isso dá espaço para um perigo silencioso: a crise de ansiedade.
A ansiedade já era um problema sério muito antes do surto do novo coronavírus (covid-19), no qual estamos vivendo atualmente. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 18,6 milhões de brasileiros sofriam de ansiedade em 2019. Com a crise sanitária, a expectativa é que esse número piore.
O principal motivo para essa perspectiva é o isolamento social, necessário para impedir o alastramento da doença. Ele desmantela nossas rotinas, nos privando até mesmo dos atos mais simples, como dar um abraço em quem a gente gosta. Some isso à figura do coronavírus: desconhecido, sem cura e que pode matar. Sim, é um cenário assustador.
Logo, se você experimentou um episódio de crise de ansiedade ou se sente deprimido, saiba que você não está sozinho. O ideal é que você procure ajuda profissional.
Caso você não tenha condições de pagar por um psicólogo, saiba que existem opções gratuitas. Uma delas é a Rede EscutAto, do Laboratório de Psicanálise e Sociedade do Instituto de Psicologia da USP. Vale a pena procurar!
Mas, além do acompanhamento profissional, uma série de atitudes podem ajudar você a se sentir melhor antes e depois de uma crise de ansiedade.
A ansiedade durante o coronavírus
Mas primeiro, precisamos entender como o cenário atual nos afeta. Em entrevista à BBC News Brasil, o psicanalista Christian Dunker afirma que o isolamento social impacta cada pessoa de forma diferente. Para exemplificar, ele criou três grupos.
O primeiro é o das pessoas que, diante da crise, estão vivendo constantemente com medo. Elas acham que a qualquer momento vai acontecer alguma coisa; como perder o emprego, ocorrer um acidente ou até mesmo alguém próximo contrair doença.
Segundo Bunker, o quadro de ansiedade para essas pessoas ou piora, ou se manifesta como uma forma de “alívio”. Nesse último caso, você sente que seus medos finalmente se tornaram realidade e o desconhecido e distante vira algo do cotidiano. É o equivalente a aceitar a situação e aprender a conviver com ela.
Já o segundo grupo consiste em pessoas que irão se sentir bem no início, mas, conforme o isolamento social se prolonga, suas rotinas começam a ser afetadas. Um exemplo é o daqueles que têm dificuldade para sair da cama para começar uma atividade, que sentem uma espécie de medo do mundo.
Por fim, o terceiro grupo (que, de acordo com Bunker, a maior parte da população se encaixa) é o das pessoas que vão ter suas fragilidades psicológicas ainda mais acentuadas. Isso não se limita apenas à ansiedade, mas a depressão e outras doenças.
“O isolamento vai tornar mais intensos os sintomas que você já tem, como a ansiedade. O paranóico vai ficar mais paranóico, o mesmo com o depressivo, com o hipocondríaco”, diz o psicanalista Christian Dunker.
O impacto da quarentena no nosso psicológico
Estudos também já abordaram o tema. Em março, o periódico científico The Lancet publicou um levantamento que analisou como a epidemia de SARS, uma síndrome respiratória aguda que atingiu a ásia em 2002, afetou o psicológico da população.
De acordo com o estudo, 29% das pessoas analisadas apresentaram sintomas de estresse pós-traumático após a quarentena da doença. Outros 31% desenvolveram um quadro de depressão após o isolamento.
Já quando se trata do covid-19, os efeitos já podem ser mensurados. Segundo o Centro de Valorização da Vida, o número de ligações no mês de março passou a marca de 300 mil. A média, de acordo com a instituição, é de 29 chamadas por dia.
Entre os principais problemas apresentados pelas pessoas está a ansiedade e o medo pelas incertezas geradas pela pandemia.
O que é uma crise de ansiedade?
Sabendo como o isolamento social afeta as pessoas, agora precisamos entender o que é uma crise de ansiedade.
A forma mais fácil de identificar se você está sofrendo desse mal é observando os sintomas físicos. Esses que incluem a aceleração nos batimentos do coração, dificuldade em respirar e tremedeiras nas mãos.
No âmbito emocional, sensação de desespero e medo profundo – como se algo ruim estivesse prestes a acontecer – também são sinais de que você está sofrendo uma crise de ansiedade.
Pessoas que sofrem dessa doença também podem manifestar irritabilidade, distúrbios do sono e problemas de concentração.
O que fazer durante uma crise de ansiedade?
Não é nada fácil controlar episódios de ansiedade. Apesar de não existir uma fórmula mágica que faça os sintomas sumirem, algumas técnicas podem amenizar e encurtar a duração desses episódios.
Se concentre na respiração
A ansiedade geralmente está acompanhada de uma sensação de desespero e descontrole. A hiperventilação, que é quando você respira rapidamente em intervalos muito curtos, é algo que ajuda a atenuar esses sintomas emocionais.
Além disso, a hiperventilação também piora seu estado físico. Com a aceleração da respiração, a quantidade de oxigênio no sangue cai drasticamente. Como consequência, dormências e problemas de pressão sanguínea podem aparecer.
Durante uma crise de ansiedade, procure controlar sua respiração. Isso pode ser feito inspirando lentamente pelo nariz e, em seguida, expirando pela boca. Repita esse exercício até que você se sinta mais calmo.
Se distraía e pense em coisas calmas
Um dos grandes desafios durante uma crise de ansiedade é ter controle da sua própria mente. Pensamentos ruins e degradantes costumam surgir durante esses episódios.
Para se evitar isso, busque controlar seus pensamentos. Um exercício que deve ajudar nisso é se imaginar em um lugar calmo e confortável. Também vale a pena procurar distrações, como uma leitura leve ou auto-massagens.
Essas atividades também irão te ajudar a tirar seu foco do pânico. Claro, é necessário que você tenha a ciência de que está no meio de uma crise de ansiedade, mas concentrar sua atenção nas sensações ruins apenas prorrogará seu mal-estar.
Relaxe seus músculos
A tensão emocional que você estará sentindo também irá te afetar fisicamente. Durante uma crise de ansiedade, é normal que seu corpo fique mais tenso (e até mesmo dolorido).
Conforme já mencionamos, tente fazer uma auto-massagem para relaxar os músculos. Também pode ser uma boa ideia se deitar ou ficar em uma posição confortável.

Evitando a ansiedade
Em uma situação como essa, não existe uma maneira certeira para se evitar a ansiedade. Entretanto, algumas atitudes podem amenizar os sintomas =e até mesmo evitar algumas crises. Veja algumas delas!
Organize o seu consumo de informações
Primeiramente, tome cuidado com a quantidade de notícias que você consome por dia. Se manter informado é importante, mas também pode fazer mal para seu psicológico.
Pode ser uma boa ideia reservar um horário específico para se inteirar sobre o que está acontecendo no mundo. De preferência, leia as notícias durante a manhã. Dessa forma, você terá o dia para assimilar a informação que recebeu e, na hora de dormir, já estará mais tranquilo.
Estabeleça uma rotina
Como estamos isolados dentro de nossas casas, também é importante manter uma rotina. Não subestime a importância que hábitos podem ter para seu psicológico.
Reserve um horário específico para trabalhar e se exercitar. Tente evitar ao máximo passar o tempo inteiro no seu quarto. Saia da sua zona de conforto, transitando pelos cômodos da casa e fazendo suas refeições em uma mesa.
Mantenha contato com as pessoas que você ama
Como diria aquela música: “quem disse que para ‘tá’ junto precisa ‘tá’ perto?”
Reforce os laços com as pessoas que você ama, a sensação de companhia irá te ajudar a superar essa crise. Vale a pena lembrar que, assim como esse está sendo um período difícil para você, também está sendo para outras pessoas.
Troque mensagens de texto, faça chamadas de vídeos, use e abuse da tecnologia para diminuir a distância.