Há mais de 100 anos as mulheres entraram no mercado de trabalho, mas como lidar com a pressão de um ambiente majoritariamente masculino? Como se desenvolver profissionalmente neste não-lugar nada confortável para as mulheres?
A entrada da mulher no mercado de trabalho brasileiro se deu a partir da consolidação do sistema capitalista no século XIX.
A Constituição de 1932 foi o primeiro documento a validar as atividades femininas, exigindo que não houvesse distinção de gênero e proteção à mulher no período de gravidez. Já em 1942, as leis trabalhistas e a criação da CLT promoveram um grande avanço em relação a mulher no mercado de trabalho.
Desde então, as mulheres estão cada vez mais desbravando novas áreas e cargos. Mas, engana-se quem pensa que o ingresso ao trabalho é um mar de rosas.
As diferenças entre homens e mulheres no mercado de trabalho começam antes mesmo do nascimento da criança. Estão tão incrustadas na sociedade através de padrões e pré-conceitos que, limitam o desenvolvimento da capacidade e do potencial de cada pessoa na sociedade.
“Meninos usam azul e meninas usam rosa”
Comentários do tipo “meninos gostam de azul, de guerra, de força, de estratégia“ e “meninas gostam de rosa, de cuidado e são mais delicadas“ são extremamente nocivos. Porém, de tão repetidos e normatizados, nos fazem acreditar que o futuro deve ser estabelecido da mesma forma. Consequentemente, o mercado de trabalho segue o mesmo padrão.
Um exemplo disso é que poucas meninas são estimuladas a pensar de forma estratégica e a serem cientistas ou engenheiras. Por outro lado, os meninos recebem pouquíssimo incentivos quando buscam por coisas julgadas de “meninas” como dança e cozinhar.
Essas caixinhas que vão se estabelecendo ao longo da infância geram consequências lá na frente, na decisão sobre o futuro e sobre como será a atuação dessas crianças perante à sociedade.
A entrada das mulheres no mercado de trabalho cresce a cada ano, mas elas ainda são minoria, mesmo representando 52,3% da população em idade ativa, apenas 43,3% integram o mercado. O número de mulheres com carteira assinada também é inferior se comparado aos homens, com cerca de seis pontos percentuais de diferença.
As lutas diárias dElas no mercado de trabalho
No Brasil, elas estão ascendendo e cada dia mais participativas nos mais variados setores. Segundo o IBGE, 48% das mulheres em idade ativa estão empregadas ou procurando trabalho.
Além disso, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a presença delas no mercado de trabalho deve aumentar mais do que a dos homens até 2030. A previsão é que 64% das mulheres do país estarão trabalhando ou procurando emprego na próxima década.
Mas, se por um lado cada vez temos mais mulheres no mercado de trabalho, por outro elas seguem enfrentando desafios desanimadores.
A seguir, listamos as principais causas que fazem com que mulheres desanimem, se afastem do mercado e abandonem suas carreiras:
- Desvalorização da profissional por parte dos colegas em relação à sua capacidade
- Diferença salarial de 20% na mesma função em relação aos homens
- Falta de acesso e representatividade em cargos de liderança
- Questões em equilibrar pessoal e profissional
- Assédio
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Ambientes masculinos tóxicos
Se essa desvalorização do trabalho atinge ambientes nos quais a sociedade diz que são femininos, como os setores educacionais e de saúde, imagine em cenários ditos masculinos como Engenharia, Desenvolvimento de Sistemas, Aeronáutica, Ciências e Mecânica.
Há um pensamento cultural de que as funções da mulher na sociedade giram em torno de cuidar, ser amável, frágil e delicada. Enquanto a dos homens são de prover, lutar, ser mais agressivo e bruto. Isso faz com que alguns ambientes recebam pouco ou quase nula presença de mulheres ao longo dos anos.
Porém isso está mudando. As mulheres estão buscando seus sonhos e sendo firmes em carreiras e cargos inimagináveis há 100 anos atrás.
Um exemplo disso, é a crescente presença de mulheres nas lideranças de empresas. O Brasil está entre os 10 países que mais tem mulheres em cargos de CEO, com 16%. Apesar de crescente o índice, ainda está longe do ideal em questão de igualdade e representatividade.
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A fragilidade masculina no mercado de trabalho
De acordo com Adriana Paz, cientista social e pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre a Mulher e Gênero da UFRGS, quando inseridas em áreas onde a presença masculina é maior “As mulheres, em geral, ocupam posições mais baixas, subalternas, na hierarquia da organização e, consequentemente, auferem menores rendimentos.“
Além disso, apesar das mulheres estarem conquistando cada vez mais espaço e serem igualmente ou mais capacitadas que os homens, elas enfrentam dificuldade em se inserir no mercado e prosperar.
“Apesar dos resultados positivos e das conquistas, ainda há muito preconceito contra a mulher, e muitas dúvidas sobre sua capacidade de se entregar ao trabalho. Geralmente, os diretores de empresas enxergam que o homem tem mais disponibilidade no trabalho para viajar e realizar hora extra.“ afirma a cientista.
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Mas, como reverter esse quadro?
Para as mulheres que tem o sonho de seguir em carreiras ditas como majoritariamente masculinas, confira algumas dicas para perder a insegurança e seguir no mercado de trabalho que deseja sem ser engolida:
- Rede de apoio com outras mulheres: ninguém melhor que alguém que passa exatamente o mesmo que você para te apoiar e dar suporte. Converse com outras mulheres da sua empresa e veja como elas se sentem. Além disso, se houver alguma mulher em cargo de gestão que você admire, inspire-se nela para lidar com as questões diárias.
- Faça parcerias: homens e mulheres tem formas diferentes de pensar e reagir, dessa forma criar parcerias é a melhor forma de se adaptar ao ambiente, se impor e mostrar seu potencial e sua capacidade.
- Repreenda todo tipo de assédio: infelizmente o assédio é algo normatizado em nossa sociedade, como brincadeiras – principalmente em ambientes majoritariamente masculinos. É preciso repreender e reportar. As mudanças mais profundas na sociedade vem aos poucos, mas para isso é preciso agir.
- Se apresentar de igual para igual e não se deixar intimidar: para muitas mulheres estar cercada de homens pode dar a sensação de insegurança, mas é preciso entender os motivos desse desconforto e racionalizá-las para seguir firme.
Além disso, há outras possíveis ações que podem possibilitar a mudança deste panorama. Um levantamento realizado pela Grant Thornton sugere investimento em programas que visem a incentivar o desenvolvimento de líderes femininas e a criação de equipes de gestão mistas, além da promoção da diversidade.
Diversidade é a palavra-chave
Outro ponto a ser levado em consideração é a questão da diversidade, segundo o estudo intitulado Women Matter, elaborado pela consultoria McKinsey & Company, a apresentação de um ambiente corporativo pouco inclusivo pode ocasionar prejuízos para as empresas.
Isso porque a pesquisa comparou empresas com e sem mulheres no comando e verificou melhora significativa no desempenho daquelas que possuíam mais mulheres ocupando cargos de chefia.
Em números, uma maior participação delas na tomada de decisão das organizações pode promover cerca de 44% de aumento no retorno sobre patrimônio.
Alguns setores já perceberam esses benefícios e estão aproveitando. Mais de 37% dos chefes de recrutamento afirmaram que a diversidade é uma tendência no que se refere às contratações.
O setor tecnológico, por exemplo, teve um crescimento de 18% no número de mulheres ocupando cargos de liderança entre 2008 e 2016. As três principais atividades que apresentaram maior avanço foram designer de experiência de usuário (67%), diretora de tecnologia (60%) e desenvolvedora web (40%).
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Conclusão
Sendo assim, diversidade é a palavra do presente e do futuro, para garantir mais inovação, e novas soluções e produtos, é preciso pensar fora da caixa e valorizar a variedade de pensamentos e ideias.
Na última década as contratações globais pautadas em diversidade cresceram 35% e a expectativa é que essa tendência beneficie sobretudo as mulheres. Além de evoluir para uma reflexão sobre gênero nos mais altos postos de chefia, ampliando o alcance das mulheres nos mais variados setores da economia.
Enquanto isso não é uma realidade, exemplos de sucesso surgem a cada dia, com mulheres em todas as áreas e cargos do mercado para inspirar as que estão começando, e honrar as que já fizeram tanto por elas nas gerações anteriores.
Dessa forma, apesar dos pontos de atenção, a força e o potencial de trabalho das mulheres no mercado de trabalho estão ganhando cada vez mais reconhecimento.
A capacidade, vontade de fazer acontecer e as habilidades delas para os negócios são irrefutáveis. É só uma questão de tempo para termos uma sociedade mais igualitária e poderosa.
Especial mês das mulheres: no mês de março, trouxemos ao blog do bettha diversos conteúdos sobre mulheres e carreiras para incentivar minas não só no mercado de trabalho mas também fora dele! Vamos juntas, manas!